domingo, 23 de dezembro de 2012

Merry Metal Christmas 2012


LEDO IVO se foi mas deixou-nos 'A QUEIMADA'. R.I.P.


Maisbarulho é fã do Jornalista Geneton Moraes Neto há muito tempo. Uma vez mais bebemos em suas fontes generosas em qualidade jornalistica, informativa e até crônica-literária para reverenciar um dos raríssimos acadêmicos merecedores de destaque e do assento imortal. A reportagem original está em http://g1.globo.com/platb/geneton/2012/12/23/o-poeta-joao-cabral-escreveu-um-epitafio-para-o-amigo-ledo-ivo-o-silencio-de-quando-as-helices-param-no-ar/


…E o grande poeta João Cabral deu de presente ao amigo Ledo Ivo um epitáfio “prévio”: “…O silêncio de quando as hélices param no ar”

dom, 23/12/12
por Geneton Moraes Neto |
categoria Entrevistas
A morte foi encontrar o poeta Ledo Ivo na Espanha. Aqui, uma longa entrevista que fiz com o poeta, faz dez anos. Bem humorado,  dizia que recebera do grande poeta João Cabral de Melo Neto um “presente” :  um epitáfio prévio, em forma de versos. João Cabral previa o dia em que Ledo Ivo encontraria “o silêncio de quando as hélices param no ar “. É destino de todos  ( anos depois, eu faria, para a Globonews, na sede da Academia Brasileira de Letras, uma entrevista em que Ledo Ivo recordava outro momento marcante da convivência com João Cabral: a exemplo do que dissera um crítico, o autor de “Morte e Vida Severina” achava que, se Ledo Ivo tivesse morrido cedo, poderia ter se transformado numa espécie de Rimbaud brasileiro, um daqueles poetas que viram lenda ao sairem de cena ainda jovens. Mas Ledo Ivo dava a graças a Deus por ter vivido tanto tempo: preferia a vida à arte. A entrevista vai ser reprisada neste domingo, às 17:05, pela Globonews). A íntegra da  primeira entrevista que fiz com o poeta:
Caçadores de belos versos,tremei de arrependimento : quem nunca leu um poema de Ledo Ivo, por preguiça, desinformação ou enfado, deve se penitenciar deste crime de lesa-literatura o mais rapidamente possível.
Um exemplo ? É difícil encontrar uma declaração de princípios tão bela quanto “A Queimada” :
“Queime tudo o que puder :
as cartas de amor
as contas telefônicas
o rol de roupas sujas
as escrituras e certidões
as inconfidências dos confrades ressentidos
a confissão interrompida
o poema erótico que ratifica a impotência
e anuncia a arteriosclerose
os recortes antigos e as fotografias amareladas.
Não deixe aos herdeiros esfaimados
nenhuma herança de papel.
Seja como os lobos : more num covil
e só mostre à canalha das ruas os seus dentes afiados.
Viva e morra fechado como um caracol.
Diga sempre não à escória eletrônica.
Destrua os poemas inacabados,os rascunhos,
as variantes e os fragmentos
que provocam o orgasmo tardio dos filólogos e escoliastas.
Não deixe aos catadores do lixo literário nenhuma migalha.
Não confie a ninguém o seu segredo.
A verdade não pode ser dita”.
O que o velho lobo terá a dizer a um repórter forasteiro que for procurá-lo no covil ? Aos cartógrafos empenhados em mapear as rotas da poesia brasileira neste início de século, diga-se que o lobo vive num apartamento do sétimo andar de um prédio da rua Fernando Ferrari, no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro. Ao contrário do que os versos podem fazer supor,o homem não é uma fera de garras afiadas.
Ei-lo : sentado numa poltrona da sala, o lobo Ledo vai fazer, a pedido do repórter,uma expedição ao País da Memória diante do gravador ligado. O cenário que circunda o Covil do Lobo é um convite à inspiração. Quando quer descansar a retina das mazelas do mundo, o lobo Ledo precisa caminhar apenas cinco passos. É a distância entre a sala e a extremidade da varanda deste apartamento. Lá fora,a beleza escandalosa de um céu sem nuvens pinta de azul a vista da praia de Botafogo.
Geneton Moraes Neto)
Ledo Ivo : convivência com Graciliano Ramos (Foto: Geneton Moraes Neto)
A localização do apartamento é invejável. Parece ter sido escolhida a dedo por um poeta.Uma confidência lítero-hidráulica : do banheiro do apartamento do lobo é possível vislumbrar a imagem do Cristo Redentor de braços abertos sobre a Guanabara. Não é para qualquer um.
As lembranças dos ídolos que povoam os corredores do Museu das Admirações de poeta vão se sucedendo,aos borbotões : com os gestos agitados de quem fala para uma platéia invisível, o pequenino Ledo Ivo reconstitui, com frases precisas, momentos marcantes da convivência com Carlos Drummond de Andrade,Graciliano Ramos,Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto, gente que virou verbete obrigatório nas enciclopédias.
Justiça se faça :  Ledo Ivo já colheu as glórias daquele país que Ariano Suassuna chama de “o Brasil oficial” : a Academia Brasileira de Letras concedeu-lhe, por unanimidade, a cadeira número 10, no não tão distante ano de 1986. Mas o “Brasil real”, aquele que passa ao largo dos salões acadêmicos, não conhece Ledo Ivo tanto quanto o poeta merece. Dificilmente o Lobo seria reconhecido na rua. Não é lido tanto quanto deveria ser. 
O Ledo Ivo que responde com entusiasmo ao precário questionário do repórter é um homem afável. O poeta que desponta nas entrelinhas dos versos é um lobo solitário, um ermitão que prefere ver a humanidade à distância. A ode à solidão – que ele já escrevera nos versos definitivos do poema “A Queimada” – repete-se no não menos belo “A Passagem” :
“Que me deixem passar – eis o que peço
diante da porta ou diante do caminho.
E que ninguém me siga na passagem.
Não tenho companheiros de viagem
nem quero que ninguém fique ao meu lado.
Para passar,exijo estar sozinho,
somente de mim mesmo acompanhado.
Mas caso me proíbam de passar
por seu eu diferente ou indesejado
mesmo assim eu passarei.
Inventarei a porta e o caminho
e passarei sozinho”.
Ledo Ivo vai alinhando as frases com a precisão de um ourives e a rapidez de uma metralhadora giratória. É incapaz de fazer concessões a vulgaridades gramaticais na hora de construir uma sentença. O lobo Ledo aparentemente concede à linguagem falada o mesmo cuidado que devota à linguagem escrita. O Português agradece,comovido. O poeta já confessou que sente abalos sísmicos em suas florestas interiores ao ouvir confrades pronunciarem impropriedades como “de maneiras que….”. Se alguém cometer o sacrilégio de misturar “tu” com “você” diante do lobo,certamente escapará de uma admoestação, porque o homem é afável, mas cairá vinte pontos no conceito do poeta.
Tradutor de Rimbaud e Dostoiévski,o lobo Ledo carrega,pelas décadas afora,as marcas da infância em Maceió :
“Na tarde de domingo,volto ao cemitério velho de Maceió
onde os meus mortos jamais terminam de morrer
de suas mortes tuberculosas e cancerosas
que atravessam as maresias e as constelações
com as suas tosses e gemidos e imprecações
e escarros escuros
e em silêncio os intimo a voltar a esta vida
em que desde a infância eles viviam lentamente
com a amargura dos dias longos colada às suas existências
monótonas.
(…) Digo aos meus mortos : Levantai-vos,
voltai a este dia inacabado
que precisa de vós,de vossa tosse persistente e de vossos gestos enfadados
e de vossos passos nas ruas tortas de Maceió.
Retornai aos sonhos insípidos
e às janelas abertas sobre o mormaço. Na tarde de domingo,entre os mausoléus
que parecem suspensos pelo vento
no mar azul
o silêncio dos mortos me diz que eles não voltarão.
Não adianta chamá-los.No lugar em que estão,não há retorno
Apenas nomes em lápides.Apenas nomes.E o barulho do mar”.
Graciliano Ramos,João Cabral de Melo Neto,Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira vão entrar em cena agora como verbetes vivos da imaginária enciclopédia do Lobo Ledo.
Gravando !

PRIMEIRA ESTAÇÃO : O DURÃO GRACILIANO RAMOS CHORA AO SE DESPEDIR DA VIDA

GMN : A imagem de Graciliano Ramos, como homem seco e intratável,corresponde à verdade ?
Ledo Ivo : “Graciliano Ramos era rústico e intratável. Nascemos no mesmo estado. Quando menino, como primeiro da turma no grupo escolar, fui apresentado a Graciliano,na época secretário de Educação. Pôs a mão carinhosamente na minha cabeça. Quando ele publicou “Vidas Secas”, eu,”menino prodígio” em Maceió,escrevi,em 1938,um artigo sobre o livro. Aquilo passou. Quando vim para o Rio, fazer vestibular de Direito, minha mãe me disse “vá visitar Heloísa” – a mulher do Graciliano Ramos, àquela altura, aos cinquenta anos de idade,uma figura importante na literatura brasileira. Durante nossa conversa, ele abriu uma gaveta e disse : “Quando publiquei “Vidas Secas” em Alagoas,só uma pessoa falou do meu livro : um menino de 14 anos…..”.
A relação de Graciliano Ramos com Alagoas era de amor e ódio, porque ele tinha saído do Estado de cabeça raspada, jogado no porão de um navio. É curiosíssimo como duas pessoas tão diferentes como eu e Graciliano Ramos puderam se relacionar. Devo ter aprendido com ele muitas coisas,como,por exemplo,a correção lingüística que,dizem,existe em minha prosa.
Graciliano Ramos era,sim,uma pessoa rústica. Em toda a literatura brasileira,ele só tinha três, quatro admirações, além de Machado de Assis, a quem considerava um negro metido a inglês : José Lins do Rego,Rachel de Queiroz e Jorge Amado. Em poesia, admirava Manoel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, por ordem do Partido Comunista (risos).
Notei, na casa de Graciliano Ramos, um livro de poesia autografado, fechado e intocado. Toda vez que eu ia à casa de Graciliano,dizia a ele : “Você deveria abrir esse livro ! “. E ele : “Já falei com Heloísa várias vezes para abrir esse livro, mas essa mulher…” (risos) .
Era como se competisse à Heloísa Ramos a função de abrir o livro.Se não me engano,era um volume das poesias completas de Augusto Frederico Schmidt”.
GMN : De toda essa convivência com Graciliano Ramos, a melhor herança foi a obsessão com a correção gramatical ?
Ledo Ivo: “A herança – pungente – é ver que a glória de Graciliano é uma glória póstuma. O que aprendi com Graciliano Ramos foi ter fidelidade ao ofício de escritor. Quem era Graciliano Ramos quando convivi com ele ? Um grande escritor,mas ainda não plenamente reconhecido – essa é que é a verdade. Os livros que ele lançara estavam esgotados. José Olympio não reeditava. Em conversas íntimas, Graciliano chamava José Olympio de “esse filho da puta – que vive editando Lourival Fontes e Getúlio Vargas…..” (N: Lourival Fontes era o chefe do Departamento de Imprensa e Propaganda durante a ditadura Vargas) . O que eu via ali, em Graciliano, era a amargura de um homem que foi tirado do ninho natal – Alagoas. Note-se que três livros de Graciliano foram escritos em Alagoas : “Caetés”, “São Bernardo” e “Angústia” . Se ele não tivesse saído de Alagoas, ficaria como uma coisa misteriosa. Por quê? Por que será que em um pequeno Estado,como Alagoas, um sujeito escreveu três grandes romances ? Depois é que veio a experiência carcerária – a única coisa que o Rio,a metrópole,deu a ele. Graciliano vivia de pequenos “bicos literários”,vivia corrigindo textos alheios. Trabalhava como revisor.
Qual foi,então,a grande impressão que Graciliano Ramos me deu ? A fidelidade ao ofício, algo que se viu também em Machado de Assis. São escritores que não esperavam nenhuma recompensa, porque a própria obra seria a recompensa. Graciliano não pensava em Academia,não pensava em prêmios literários,não pensava em glória. Eu trabalhava em jornal naquela época. Jamais Graciliano Ramos ou José Lins do Rego me pediram que publicasse uma nota sobre eles”.
GMN : O desleixo com a glória imediata foi,então,uma atitude que o senhor herdou de Graciliano Ramos ?
Ledo Ivo : “Uma característica de Graciliano Ramos -que me orgulha- é a pobreza. Era um escritor que andava de ônibus. Vivia-se num Brasil diferente. Naquele tempo, só Carlos Drummond de Andrade tinha um carro – oficial. Os outros eram Augusto Frederico Schmidt e Jorge de Lima. Eram os três escritores que tinham carro ! Um negócio impressionante,porque todo mundo andava de bonde ou de ônibus. Não havia feriado. A José Olympio ficava aberta aos sábados até seis horas da tarde. Era um mundo diferente,o da vida literária, marcada pela existência de suplementos literários.
Mas havia ,em Graciliano Ramos,um detalhe que me impressionava : o problema da formação literária. Eu ficava impressionado com o fato de que a formação literária de Graciliano Ramos era – de certa maneira – muito reduzida. Baseava-se nos brasileiros Machado de Assis e Aluísio Azevedo – um autor de quem ele gostava -,no português Eça de Queiroz e nos russos Tolstói, Dostoievski e Gorki. Com esse pequeno mundo de leitor, Graciliano Ramos fez uma uma obra grandiosa. Nunca leu Marcel Proust, por exemplo. Quando eu perguntava por que,ele dizia : “Não leio veados ! “.
Quando o visitei pela última vez,no hospital, ele chorou, porque sabia que ia morrer. Enquanto chorava,falava -e muito – sobre a mãe. O hospital ficava aqui ao lado,onde hoje é este edifício (Ledo aponta para fora do apartamento).  Aquele foi nosso último encontro, porque eu estava de partida para Paris. Fui me despedir. Graciliano estava esquálido.De vez em quando,falava coisas desconexas. Contava que a mãe,quando casou,levou as bonecas para casa – um negócio curioso.
O choro de Graciliano ficou como uma lembrança marcante, porque já trazia a saudade da vida. Eu senti ali que,por mais que ele dissesse que odiava a vida, ele, na verdade, amava viver. O que matou Graciliano foi um câncer no pulmão. Era um fumante de cigarros Selma. Só escrevia bebendo cachaça. Jorge de Lima também morreu de câncer no pulmão,mas nunca fumou.
Os homens não morrem de doenças : morrem de morte”.
GMN : O senhor escreveu em suas memórias : “Vivo escrevendo, mas o trágico é que escrever não é viver”. Com que freqüência,então, o senhor tem a sensação de estar substituindo a vida pela escrita ?
Ledo Ivo: “É um drama comum a todo e qualquer escritor este sentimento de que estamos vivendo,sim, mas essa vida se destina somente a acumular experiências para a obra literária. Já a quase totalidade das pessoas se limita a viver, porque não dispõe de linguagem. Trago um mistério inicial em minha biografia : por que logo eu, numa família de onze, revelou a vocação e o destino para a escrita, numa família que não tinha pendores literários ? Sempre tenho a impressão de que toda a vida de um escritor é estuário onde se acumula a matéria que se transformará em obra literária. O escritor é,então,uma pessoa condenada não a viver, mas a escrever.
Fausto Cunha – grande crítico,que notou,em minha procedência literária, a influência de poetas malditos como Rimbaud,Verlaine e Baudelaire – me disse : “O grande erro de sua vida é que você não morreu aos vinte anos. Se tivesse morrido moço, teria deixado “Ode e Elegia”, “As Imaginações”, e “Acontecimento do Soneto”. Então, seria um poeta como Castro Alves ou Casemiro de Abreu !.Vida longa atrapalha a biografia !”.
João Cabral me disse a mesma coisa. Eu respondi : “Prefiro ser o Victor Hugo das Alagoas – o poeta que vive até os oitenta anos !”. Prefiro o mistério dos poetas que,como Drummond e Manuel Bandeira,tiveram uma vida longa e uma obra igualmente longa”.
GMN : Ariano Suassuna – que foi homenageado no carnaval aqui no Rio – disse que já tinha recebido a homenagem do “Brasil oficial”, ao entrar para a Academia Brasileira de Letras e estava recebendo ali,no sambódromo,a homenagem do que ele chama de “Brasil Real”. O senhor – que já foi homenageado pelo “Brasil Oficial” ao ser recebido por unanimidade na Academia Brasileira de Letras – sente falta do reconhecimento do “Brasil Real”,já que não é tão conhecido como poeta como deveria ?
Ledo Ivo: “O poeta inglês John Mansfield diz que já viu o azarão no jóquei ganhar o prêmio, já viu flor brotar da pedra, já viu coisas amáveis feitas por homens de rosto feio. “Eu também espero” – diz ele. Confesso que o problema do reconhecimento vasto não me preocupa. A vida literária se faz pela diversidade e pela multiplicidade. Não se sabe se o escritor de pouco público de hoje será o escritor de grande público de amanhã.
Um escritor pode ser obscuro e desconhecido hoje e famoso e glorioso amanhã. Você pode também estar dentro da literatura e um dia ser expulso ! São coisas que não me preocupam. O que me preocupa é a criação literária. Já que sou uma criatura dotada de linguagem, quero me exprimir. Mas sei que uma obra só se completa com a existência do outro. Há sessenta anos estou esperando por esse leitor. Um dia ele haverá de aparecer”.
GMN : O poema “A Queimada” – aquele que fala do lobo no covil – é uma declaração de princípios de que o escritor deve ser,no fim das contas,um solitário ?
Ledo Ivo: “O escritor deve ser um solitário solidário. A verdade, como digo no poema,não pode ser dita”.
GMN : O senhor reclama daqueles escritores que só brilham em congressos….
Ledo Ivo: “Oswald de Andrade – de quem fui muito amigo até brigarmos – me procurou, magoado, porque tinha sido expulso do Partido Comunista. Os comunistas, então, não o deixaram participar do Congresso dos Escritores de São Paulo. Eu disse a ele: “É besteira ! . Nietzsche nunca participou de um congresso de escritores” (risos)…
GMN: Por que o senhor diz que detesta escritores que consideram a criação poética “um suplício” ?
Ledo Ivo: “Tenho horror desses camaradas que passam o tempo todo dizendo que gemem e suam na hora de escrever. A minha criação literária é uma felicidade. Quando escrevo, parece que as coisas já vêm prontas, organizadas subconscientemente. Pensam que “capino” o meu texto. Mas o meu texto vem espontaneamente. Não tenho nenhuma simpatia por escritores que cortam. A minha simpatia maior é pelos escritores que acrescentam !.
João Cabral uma vez me disse que passava noites acordado, com angústia. Eu dizia “Você só diz que passa noites acordado para ver se me causa inveja, mas não causa não!”.
GMN : Ao contrário do que dizia Carlos Drummond de Andrade, escrever não é “cortar palavras”, mas acrescentar ?
Ledo Ivo: “Um escritor francês disse que o bom escritor é aquele que “enterra uma palavra por dia”. Para mim, o bom escritor é o que desenterra uma palavra por dia ! . Porque o escritor lida com um patrimônio lingüístico. De vez em quando o brasileiro ressuscita palavras esquecidas”.
GMN : Por que afinal de contas o senhor não inclui em seus livros o tão citado poema sobre o Recife ?
Ledo Ivo: Em primeiro lugar, porque os alagoanos protestariam. Eu tinha dezesseis anos quando escrevi o poema :
“Amar mulheres,várias
amar cidade,só uma – Recife.
E assim mesmo com as suas pontes
E os seus rios que cantam
E seus jardins leves como sonâmbulos
E suas esquinas que desdobram os sonhos de Nassau”
O poema reflete a descoberta do Recife por um alagoano. Porque Recife tem um lado cosmopolita – que me impressionou muito. O meu pai era pernambucano. A família Ivo é pernambucana. Eu era considerado meio pernambucano por ser ligado ao grupo do crítico Willy Lewin,nos anos quarenta. Recife foi a cidade de minha primeira formação literária. Fazíamos poemas nas mesas do Lafayette,numa época de boemia. O poema sobre o Recife ficou desaparecido até 1947, quando chegou às mãos de Mauro Mota – que o publicou no Diário de Pernambuco (ou terá sido no Jornal do Commercio). O destino de um poema é curioso. A gente escreve um poema; ele ganha vida própria,começa a circular.
Guardo a lembrança de um conselho que Joaquim Cardozo me deu : ele dizia que eu deveria ser um poeta alagoano,assim como ele era um poeta pernambucano. O sentimento do berço tinha grande importância para ele”.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE,O GRANDE POETA SECRETO,ENTRA EM CENA

GMN : Qual é a grande lembrança que o senhor traz da convivência com Carlos Drummond de Andrade ?
Ledo Ivo: “O que me impressionou em Drummond, já no primeiro encontro, foi um certo “fechamento” interior. Não se entregava. Era como se vivesse insulado em si mesmo. Há em Drummond algo que é “intransmissível”. Tive essa sensação de intransmissibilidade.
Eu levei meus primeiros poemas para Drummond, no gabinete em que ele trabalhava, no prédio do Ministério da Educação, no centro do Rio. Depois que leu, ele até chamou a atenção de outros escritores para mim. Em seguida, vieram as rusgas, porque havia divisões políticas naquele tempo.
A coisa mais impressionante que Drummond me disse foi num de nossos últimos encontros. Um certo poeta brasileiro – de quem não quero dizer o nome – proclamou-se herdeiro de Drummond. Quando me encontrei com ele, disse: “Como é que vai o herdeiro?” . E ele : “O herdeiro de um poeta é o poeta diferente do modelo. O meu herdeiro será um poeta inteiramente diferente de mim : é esta a lição da poesia”.
O herdeiro de Olavo Bilac foi Mário de Andrade. Os herdeiros são os diferentes. São até os adversos : não são os assemelhados. É a grande lição de Drummond que ficou em mim : ele não espera ter um clone como herdeiro. (risos) O que Drummond esperava era o “anti-clone”.
GMN : Nesse primeiro encontro, o senhor – que viria a se considerar um lobo no poema “A Queimada” – teve a sensação de que o Drummond era o “urso polar”,como ele disse que era num dos poemas ?
Ledo Ivo: “Tive essa sensação. Drummond tinha uma vida amorosa muito escondida – que depois, infelizmente, foi violada pela imprensa. Eu via, em Drummond, um grande poeta secreto. Naquela época, 1940, Drummond não tinha a notoriedade que ganhou depois. O próprio Manuel Bandeira pensava que o grande poeta brasileiro daquela época fosse Augusto Frederico Schmidt. Porque o Schmidt enrolava todo mundo (risos). Schmidt até pensou em fazer um poema sobre a descoberta do Brasil, mas depois Drummond veio com A Rosa do Povo e acabou com a festa”.
“Sou apenas um homem.
Um homem pequenino à beira de um rio.
Vejo as águas que passam e não as compreendo.
Sei apenas que é noite porque me chamam de casa.
Vi que amanheceu porque os galos cantaram.
Como poderia compreender-te, América ?
É muito difícil.
Passo a mão na cabeça que vai embranquecer.
O rosto denuncia certa experiência.
A mão escreveu tanto – e não sabe contar !
A boca também não sabe.
Os olhos sabem – e calam-se”
(Trecho de “América”, poema do livro “A Rosa do Povo”/Carlos Drummond de Andrade)

GMN : O que ficou da amizade com Manuel Bandeira ?
Ledo Ivo: “Minha ligação com Manuel Bandeira foi profunda. De todos os poetas, talvez o que mais me tenha marcado e ensinado foi Manuel Bandeira. Quando eu era menino, mandei poemas para ele. Recebi de volta um cartãozinho em que ele tocou em um ponto que ainda hoje permanece na poesia: “Há muita magia verbal em seus poemas”.
Depois percebi que, para mim, a operação poética é como se fosse um encantamento da linguagem – uma magia. Sou um poeta que acha que a poesia é o uso supremo da linguagem. Bandeira fez esta descoberta em meu momento inicial. Deu-me lições perenes : por exemplo, a de que o poeta deve ser um intelectual culto. Só a cultura tem condições de abrir caminhos. Ao poeta,não basta apenas ter talento e vocação. Por que o poeta deve ser realmente um homem culto ? Porque a poesia é um sistema milenar de expressão. É preciso conhecer os mestres. A criação poética não é,portanto,um problema só de sensibilidade. É um problema de cultura. Somente o vasto conhecimento da poesia e da literatura é que permite ao poeta exprimir-se.
A fidelidade à literatura deve ser o emblema do escritor. Devemos continuar segurando o estandarte. Vivemos um tempo de mudanças. Somos uma civilização de massas, uma civilização eletrônica, uma civilização consumista. Tudo alterou a posição do escritor e do poeta no Brasil.
Já não temos aqueles poetas populares de que Drummond foi o último grande exemplo. O poeta vive hoje em uma época de anonimato. Os ícones são diferentes, os gurus são outros. A linguagem literária hoje compete com a linguagem eletrônica, o CD-Rom, o cinema,o disco . Mas,há alguma coisa que só a poesia tem condições de dizer. A poesia, então, existirá sempre,como linguagem específica,porque só ela pode dizer,sobre a condição humana,algo que não pode ser dito de nenhuma outra maneira. O cinema e a televisão lidam de uma maneira diferente”.
GMN : O poeta, então, deve se resignar a ser anônimo, nesse mundo dominado pela fama e pela mídia eletrônica?
Ledo Ivo: “A função do poeta na sociedade é escrever poemas.A notoriedade é secundária”.
GMN : O senhor tem esta sensação de deslocamento ?
Ledo Ivo: “Pelo contrário ! Para mim, seria inconcebível ter aparecido antes ou ter aparecido depois. Como poeta ,surgi no momento certo.Tenho um grande sentimento da minha contemporaneidade.O mundo atual habita os meus poemas.A função do poeta é,também,celebrar o mundo em que vive. Não tenho nostalgia pelo passado. Não gostaria de ter nascido no passado,assim como não gostaria de ter nascido no futuro”.
GMN : Do que o senhor ouviu de João Cabral de Melo Neto, qual foi a grande lição ?
Ledo Ivo: “João Cabral me deu a lição da diferença entre os poetas.Cada poeta é diferente. As estéticas dos poetas são até inconcebíveis. Como são diferentes os caminhos para fazer a mesma coisa ! . O que mais me impressiona em João Cabral é ele ser saudado sempre como “o poeta da razão”, no Brasil. Para mim, João Cabral de Melo Neto é o poeta da “anti-razão”,o poeta da obsessão, o poeta das coisas ocultas,o poeta das coisas sibilinas, herméticas. A poesia que ele deixou é complexa,mas se abre para o grande acesso popular, o que é curioso.
Uma vez,João Cabral me disse: “Nós estamos fazendo uma obra literária. Procuramos fazer uma obra literária o maior possível.De repente, lá em Nova Iguaçu ,a essa hora, anonimamente, alguém pode estar fazendo a obra com que nós sonhamos”.
GMN : Para o senhor – que se considera “um homem de muitas perguntas e quase nenhuma resposta” – qual é a grande pergunta, a grande perplexidade que até hoje o atormenta ?
Ledo Ivo: “A perplexidade é estar no mundo – com todas essas perguntas que se acumulam; o fato de ser transitório; a existência e não-existência de Deus; o problema da condição humana. Vivo num mundo em que quase não há resposta. Não sei onde começo e onde termino. Sequer sei se existo, no sentido de ter uma existência nítida, com fronteiras definidas.Talvez o meu mundo seja o mundo da ambigüidade.
Drummond chamou a minha poesia de “múltipla”. É uma frase que ilumina mais uma existência poética do que muitos rodapés. Quando publiquei “Confissões de um Poeta”, Hélio Pellegrino me telefonou para dizer que ficou impressionado com o clima de procura que há em todo o livro. Como era psicanalista e poeta,Hélio Pellegrino disse que minha descoberta estava exatamente nessa procura.
Vivo nessa perpétua indecisão. O que me impressiona é que essa procura tenha durado tanto; não tenha acabado ainda”.
GMN : Há em seus textos uma certa obsessão com a finitude. Qual foi o primeiro espanto que o senhor teve diante da morte?
Ledo Ivo: “Venho de uma família numerosa. Tenho um irmão que morreu, o chamado “anjinho”, aquele que morre novo. Outro irmão meu, chamado Éber, morreu aos oito anos. Numa família nordestina,numerosa, a morte vive sempre rodeando as pessoas. Quando menino, eu gostava de visitar cemitérios. Mas censuro a morte ! .Como sou uma criatura do aqui e do agora,fico impressionado com a morte,porque ela faz com que a gente já não esteja aqui”.
Talvez venha da infância o sentimento de que a vida é provisória e instantânea.É um relâmpago. Além de tudo,há o mistério da existência : por que será que uns morrem cedo,outros morrem tarde e outros não morrem nunca ? “.
GMN : O senhor faz,em um de seus textos,uma referência a uma caminhada solitária pelas alamedas do Cemitério São João Batista. O que é que o senhor estava fazendo no cemitério ?
Ledo Ivo: “Devo ter ido me despedir de um amigo. Não fui para visitar o cemitério. O engraçado é que João Cabral escreveu o meu epitáfio em versos que ele nunca incluiu em livro. O que João queria era fazer um livro só de epitáfios de amigos. Terminou não fazendo.
João foi um grande amigo meu,mas tínhamos temperamentos diferentes. Enquanto ele ia para um lugar, eu ia para outro. Nunca nos encontramos – nem esteticamente. Dizia que eu falava muito; achava que só a morte é que me reduziria ao silêncio.
O epitáfio que João Cabral criou para mim é este :
“Aqui repousa
Livre de todas as palavras
Ledo Ivo,
Poeta,
Na paz reencontrada
de antes de falar
E em silêncio,o silêncio
de quando as hélices
param no ar “. 

Best Christmas Songs Playlist

terça-feira, 27 de novembro de 2012

CHICAGO por Eric Hines



Homenagem


Utilizando mais de 30 mil imagens captadas com câmera fotográfica de última geração entre julho e outubro deste ano e editadas em um vídeo com time lapse, o fotógrafo americano Eric Hines prestou belíssima homenagem ao centro de Chicago. Boa parte do filme, que tem como trilha sonora a canção “Trascendence”, da dupla americana The American Dollar, valoriza o aspecto noturno da cidade. A impressão que se tem, porém, é a de um núcleo urbano muito mais vívido e menos soturno do que toda a mística de Gotham City sugere. Ainda assim, trata-se de uma urbe para lá de imponente. (Do site do Ricardo Setti na veja http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/)

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Celebration Day - O filme

Filme com o show que reuniu em 2007 os membros do Led Zeppelin, Jimmy Page, John Paul Jones e Robert Plant mais o baterista Jason Bonham - filho do baterista original John Bonham no O2 Arena. Em cartaz nos cinemas.
 

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

John Butler

OCEAN - John Butler - 2012 Studio Version This special re-recording was captured in ‘The Compound’, his studio in his hometown of Fremantle Western Australia in February 2012. Having performed the track to a worldwide audience over the past 12 years, ‘Ocean’ is today available FREE as an MP3, grab your copy here:http://www.johnbutlertrio.com/ocean

Rock da banda oriental - Uruguai

Shakers And Mockers: Uruguay's Place In Latin Rock History
by ERIC ZOLOV Squeezed in between mighty Brazil and Argentina, Uruguay has historically served as a geopolitical buffer zone, a nation whose own political and cultural identity has been overshadowed by its powerful neighbors. Yet during the 1960s this small country generated some of the most original rock found anywhere in the hemisphere. Foreign influences abounded, from the Anglo-rock invasion by the U.K. and the U.S., to the commercialized pop of Argentina and the cultural remixings of the Brazilian tropicalistas. Uruguayan rockers chewed on these influences and spat them back, mockingly at first and more somberly as the night of political repression fell. Uruguay was long known as the Switzerland of South America. It had a stable, two-party political system with a large middle class. The military had stayed out of politics and wasn't expected to come back. When Beatlemania hit the Western Hemisphere, Uruguayan youth were especially ready to join in the revelry. "Discódromo," a freewheeling radio program (and, later, TV show) started by Rubén Castillo in 1960, had already exposed the youth of Montevideo, Uruguay's capital, to the teen culture emerging abroad. In the years to come, Discódromo would play a key role in supporting and disseminating the nation's homegrown rock talents. In 1964 a Uruguayan quartet, led by the talented Fattoruso brothers, decided to recreate the Beatles at home. They did so in the form of Los Shakers, a pop-rock sensation who established a high bar for miming metropolitan rock. Uruguay's era of English-language música beat had begun. Other groups soon followed, notably Los Mockers, whose artful impersonation of The Rolling Stones was the counterpart to Los Shakers. Here's Los Shakers doing "Let Me Go": Although the lead singer, Polo Pereira, could not speak English, his ability to channel the persona of Mick Jagger was truly mind-blowing. Even their name (a combination of mods and rockers) conveyed the coy, tongue-in-cheek defiance that characterized the spirit of many of these bands: defiance toward one's elders, certainly, but also toward the geographical fate of Uruguay itself, tucked away at the bottom of the South American continent. Here are Los Mockers doing their version of "Paint it Black" by the Rolling Stones, protruding lips and guttural sneer wholly intact: The legends of Los Mockers and, especially, Los Shakers quickly spread not only to Argentina, where they both recorded and were carefully managed by their handlers, but beyond. By the mid 1960s, scores of so-called "beat bands" were performing across Uruguay. They did so in spaces ranging from the semi-underground cuevas (caves), as they were known, to the ritzy hotels and private clubs that dotted the country's beach resorts. Except for Los Shakers, whose subsequent recordings were mostly originals, these bands essentially performed covers of foreign hits. Moreover, they all sang in English. They did so not sheepishly but with unabashed exuberance (even when their diction was less than perfect). As Esteban Hirschfield, organist for Los Mockers, later remarked in an interview, there was "no shame" in imitating the Stones "as closely as possible." "On the contrary," he reflected, "we were proud of it." Singing in English seemed the obvious ticket for staking a claim to a world beyond Uruguay. It was, as cultural theorist Abril Trigo has suggested, a logical way to be taken seriously for a "Europeanized but peripheral youth who desperately wanted to be modern." It also led to some exceptionally fine original rock in a language that was not one's own, such as Los Shakers, at the peak of their commercial success, performing their 1966 bossa nova-influenced hit, "Never, Never": By 1968, the cultural climate for making music was undergoing a radical shift. A self-confidence established over the previous years had laid the foundations for greater experimentation. The political situation had shifted as well. Los Tupamaros, an urban guerrilla group, captured the headlines with a spate of kidnappings in the name of revolutionary justice. Che Guevara was dead, but his spirit was more alive than ever. In June 1968, the president declared a state of emergency, suspending numerous constitutional protections. Uruguay was now on a slippery slope that lead to direct military rule in 1973. That year, the country's two most important bands, Los Shakers and Los Mockers, both broke up. Their dissolution marked the end of an era in which, for a brief period, English-language Uruguayan rock dominated the South American pop charts. As Osvaldo Fattoruso of Los Shakers later noted, the band was "tired of playing at being the Beatles." The band's last swipe was the masterful La Conferencia Secreta Del Toto's Bar, an album clearly influenced by The Beatles' recent release of Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. La Conferencia Secreta serves as a kind of time capsule of a pivotal moment in 1960s Uruguay: a moment when rock was becoming politicized and a new, far more organic musical sensibility began to take hold. The bite was still there, as bold as ever, but the subject matter had become more serious. Such was reflected in the album's title cut, a sardonic retelling of the 1962 meeting that led to the expulsion of Cuba from the Organization of American States. "Maybe I read it in a storybook/Maybe in a picture/beneath the author's desk/There were three generals with little boots/Each one with a pocketful of medals/. . ./From London, Paris, Berlin, they went on holidays/They billed the kids from Uruguay/And stopped Sir Rafael": The era of a unique, Uruguayan commercialized rock had largely ended. But a new era, one spearheaded by the experimental "candombe-rock" of El Kinto, on one hand, and the progressive rock of bands such as Psiglo was about to begin. ——————————————————————————————

Oktoberfest

Já é Outubro:
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A coisa ficou feia pro Monteiro Lobato


Too Much Horror Business: The Kirk Hammett Collection


Q&A: Metallica's Kirk Hammett onHorror Fans, Hanging With Kurt Cobain

New book showcases his unique collection

Kirk Hammett of the band Metallica.
Mark Leialoha
October 1, 2012 5:05 PM ET
Almost a decade before he picked up the guitar – and even longer before he joined Metallica – a six-year-old Kirk Hammett started collecting horror memorabilia, inspired by a love of old zombie flicks. Starting today, fans will have an opportunity to peek inside his ghoulish trove with Too Much Horror Business: The Kirk Hammett Collection (Abrams Image), the rocker's new coffee-table book featuring over 300 images of his prized possessions. "I can't be the solitary collector," Hammett tells Rolling Stone. "It's time for me to share it with the world."
Hammett goes in depth with writer Steffan Chirazi throughout the 224-page book, explaining how he built an impressive collection that includes Frankenstein masks, Rodan and Ghidorah models and vintage film posters from The Day of the TriffidsThe Mummy and Blacula – among countless other treasures.
While Hammett is keeping busy with the new book and his very own toyline – KVH, based on his spooky alterego, Kirk Von Hammett – he's still focused on his Metallica duties, from the 3D movie the band shot in Canada last month to mapping out their next LP. "Once we're done with [the movie], we're going to start hunkering down and putting riffs together," Hammett says. "That's all going to happen soon."
You've been collecting for decades. Why did you decide to put out a book now, and how did you go about putting it together? 
Everything that's in the book is stuff that is actively in my collection. I've been into horror movies ever since I was five years old. I started collecting horror-related stuff when I was six years old – monster magazines, comic books and whatnot. Over the last five years or so, I started to get a few items that made my collection just that much better. I mean, really raised the overall quality of my collection. I thought, "I can't be the solitary collector. It's time for me to share it with the world." So this book is my gift to all the other monster kids and all the horror nerds out there, who love this stuff as much as I do.
The whole idea was to not just make a book filled with images, but also to interject some of my personality into it, so it made it a little bit more personable. So there's interviews with me discussing collecting in general. There's pictures of me with my collection, and there's also a picture of my horror persona, "Kirk Von Hammett" – which is me in ghoul makeup.
I hope people will not be disappointed with it. I put my heart and soul into this book, and I'm really pleased with how it turned out. I should be – I fucking went through every little positioning of all the pictures and every little word and grammatical stuff. Everything from cover to cover. It really has been a labor of love, and I'm just very proud of it.
What can fans expect from your toy line?
The first toy to come out will be a figure based on my Kirk Von Hammett persona. We're also going to make other toys that have a tie-in with the book, or are images from movies that are in my book. It's going to be pretty cool, because I've always wanted to make toys. It's my attempt to have a cool toy line that makes horror-related monster toys.
We recently asked our readers to pick the Greatest Heavy Metal Albums of All Time, and they voted four Metallica albums onto the list, with Master of Puppets claiming the top spot. Amazing. Totally and completely amazing to me. That album, for me, is my favorite Metallica album.  We had been playing together as a band with that lineup for about three years. We were definitely peaking, and Master of Puppets, in my opinion, was the sound of a band really gelling and really learning how to work well together. At the time, we were just making another album. We had no idea it would have such a range of influence that it went on to have. It was the first time that we could spend time in the studio and work on guitar sounds for a couple of days, really experiment with different sounds and overdubs. It was just a good time for me . . . and I played a lot of poker with [late bassist] Cliff Burton in the studio. We'd just play poker, wait for Lars to finish a track – which would sometimes be days – and we'd be bored.
How was Cliff at poker? 
He was a pretty good poker player. But if he lost too much, he'd get pissed and start swearing and get up and walk away. He was a little bit of a sore loser when he wasn't winning.
Lars Ulrich has said that a new Metallica LP probably won't arrive until 2014. What's the status of the album now? Are there any plans to have Rick Rubin produce it?
Right now, we're kind of preoccupied with dealing with this 3D movie that we shot up in Canada last month. So that's kind of taking our time right now – that's the priority, to deal with that. But once we're done with that, we're going to start hunkering down and putting riffs together. That's all going to happen soon. I really don't have an answer about Rick Rubin, although his name certainly comes up.
Next year marks the 30th anniversary of the release of the band's debut album, Kill 'Em All. What was a typical day like for you guys during the album's recording?
Get up with a hangover, go down to the studio and try to figure out what song we were going to do next, and try to do it in a very timely fashion. We made that album in, like, three weeks, or something crazy like that. There wasn't a whole lot of time for experimentation or anything like that. It was pretty much a case of go down there, try and play it as best as you can, and then move on to the next song. We didn't have any time to do any fancy production or anything. It was very much just go in there, do it, get out, then buy a bunch of pizza and vodka.
Is it true that the album cut "Whiplash" was Kurt Cobain's favorite Metallica song?
Absolutely. He told me that himself. He came to one of our shows in Seattle, on the Black Album tour. I remember at one point, we were playing "Whiplash," and he looked at me and kept punching the air with his fist, and gave me a big thumbs-up sign. I was like, "Cool. Kurt, I know you love this song. This one's for you!" I knew Kurt kind of well, and I hung out with him quite a bit. He was a pretty big Metallica fan – I was surprised at how much of a Metallica fan he was. He loved Ride the Lightning. He loved that album.
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