sábado, 17 de setembro de 2011

Por que não houve e nem há liberdade além do lado assassino de Che?

12/08/2011 - 16h00

Leia trecho da obra que mostra lado brutal de Che Guevara

da Livraria da Folha

Divulgação
"A melhor coisa a fazer na América [Latina] é ir embora." - Simón Bolívar
"A melhor coisa a fazer na América [Latina] é ir embora." - Simón Bolívar

"Não tem como negar: na América Latina e mesmo fora dela, Che é o cara." Assim são as primeiras linhas de "Um Olhar Matador", um dos capítulos do livro "Guia Politicamente Incorreto da América Latina" (LeYa), escrito por Leandro Narloch e Duda Teixeira.

Entre tantas curiosidades e bizarrices de personalidades latinas, como Evita, Salvador Allende e Pancho Villa, provavelmente, a mais instigante é a de Che Guevara, simplesmente por ele ser, como os autores já descreveram, um mito, um herói... um maldito assassino?

Pois é, aquele cara que todo meio intelectual meio de esquerda da classe média sempre disse admirar (apesar de achar que o tal nasceu em Cuba e era um santo em pessoa), tem suas virtudes contestadas, de maneira bem impactante, pode-se dizer.

Por meio das pesquisas e entrevistas dos jornalistas que assinam o livro, o verdadeiro Che, o que se esconde debaixo da figura heróica é um verdadeiro sem vergonha e brutal guerrilheiro, que em meio a paranoias e acessos de raiva, saía distribuindo ordens para matar pobres coitados, refugiados e por pouco alguns "homens de sua confiança".

Como revelam as linhas, em muitas oportunidades, quem acalmou o companheiro foi Fidel Castro, parceiro na revolução, e aparentemente a cabeça mais sã da dupla.

Leia trecho sobre o sangue frio do herói latino Che Guevara.

*

Che chegou a Cuba no fim de 1956. Era um dos 81 guerrilheiros que acompanhavam Fidel Castro na travessia do México à ilha de Cuba a bordo do Granma, o iate que depois daria nome ao jornal oficial cubano. O grupo sofreu um ataque do exército, obrigando os poucos sobreviventes a se esconder na Sierra Maestra. Foi ali que Che começou a realizar seus desejos. Logo de início, revelou traços típicos dos piores ditadores comunistas: o controle extremo da conduta individual, a paranoia com a traição e o fato de considerar o ideal da revolução acima de qualquer regra de convivência.

"Poucos homens estavam imunes ao olhar desconfiado de Che", conta o biógrafo John Lee Anderson, que completa:

Havia um nítido zelo calvinista na perseguição movida por ele aos que se desviavam do "caminho correto". Che abraçara fervorosamente la Revolución como corporificação definitiva das lições da História e como o caminho correto para o futuro. Agora, convencido de que estava certo, olhava em volta com os olhos implacáveis de um inquisidor em busca daqueles que poderiam pôr em perigo a sobrevivência da Revolução.

O primeiro cubano morto diretamente por Che Guevara foi Eutimio Guerra, um camponês que servia de guia aos guerrilheiros na Sierra Maestra. Acusado de ser informante das forças armadas, ele teve a pena de morte autorizada por Fidel em fevereiro de 1957.

A identidade do executor de Eutimio ficou em segredo por 40 anos. Só em 1997, depois que o biógrafo John Lee Anderson conseguiu com a viúva de Che o original de seu diário, foi possível saber quem o matou. O guerrilheiro conta que, no momento de sua execução, um forte temporal caiu sobre a serra. Como ninguém se dispunha a cumprir a ordem, ele tomou a iniciativa. Repare na frieza da narrativa:

Era uma situação incômoda para as pessoas e para [Eutimio], de modo que acabei com o problema dando-lhe um tiro com uma pistola calibre 32 no lado direito do crânio, com o orifício de saída no temporal direito. Ele arquejou um pouco e estava morto. Ao tratar de retirar seus pertences, não consegui soltar o relógio, que estava preso ao cinto por uma corrente e então ele [ainda Eutimio] me disse, numa voz firme, destituída de medo: 'Arranque-a fora, garoto, que diferença faz...'. Assim fiz, e seus bens agora me pertenciam. Dormimos mal, molhados, e eu com um pouco de asma.

No diário de Che, não há sinal de culpa ou de alguma inquietação quanto à execução. Horas depois da morte do camponês, seus interesses já eram outros. "Se Che ficou perturbado com o ato de executar Eutimio, no dia seguinte não havia qualquer sinal disso", escreve Anderson. "No diário, comentando a chegada à fazenda de uma bonita ativista do 26 de Julho, escreveu: '[Ela é uma] grande admiradora do Movimento, e a mim parece que quer foder mais do que qualquer outra coisa'."

Segundo o Arquivo Cuba, foram pelo menos 22 execuções na Sierra Maestra entre 1957 e 1958. Quase todas as vítimas eram membros do próprio grupo rebelde de Fidel Castro e Che Guevara - três acusados de querer abandonar o grupo, oito considerados suspeitos de colaborar com o exército e os outros 11 mortos por cometer crimes ou por razões desconhecidas.

No dia a dia de paranoias e crises de confiança entre os guerrilheiros da Sierra Maestra, Fidel Castro tinha de segurar a onda de Che Guevara. O argentino com frequência sugeria acabar com companheiros diante da menor desconfiança. Depois que os guerrilheiros ganharam comida na casa de uma família de camponeses e passaram mal, Che disse a Fidel para que voltassem lá para tirar satisfações - Fidel o deteve. A pressa em resolver as coisas à bala recaía até mesmo sobre companheiros antigos, como José Morán, "El Gallego", um veterano do Granma.

Diante da suspeita de que Morán traía o grupo, Che queria logo executá-lo. "É muito difícil saber a verdade sobre o comportamento do Gallego, mas para mim trata-se simplesmente de uma deserção frustrada", escreveu em seu diário. "Aconselhei que ele fosse morto ali mesmo, mas Fidel descartou o assunto." Fidel acabaria se tornando o líder do regime não democrático mais duradouro do século 20. Imagine se Che assumisse esse posto.

Fidel, porém, às vezes se distanciava, deixando Che sozinho com seu pelotão. Em 1958, o argentino liderou a tomada da cidade de Santa Clara, o maior obstáculo entre os guerrilheiros e Havana. De acordo com a organização Arquivo Cuba e dezenas de dissidentes cubanos, a invasão foi seguida por uma onda incontrolável de execuções. Policiais da cidade e moradores acusados de colaborar com o governo de Fulgencio Batista foram mortos na rua. Che ficou dois
dias e meio na cidade e logo seguiu caminho para Havana. Antes de ir embora, ordenou diversas execuções a serem cumpridas por seus subordinados.

Matou ou ordenou a execução de 17 moradores. A decisão de tantas mortes não foi baseada em julgamento nem houve qualquer possibilidade real de defesa.

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Veja abaixo algumas fotos relacionadas à Che Guevara que fazem parte do arquivo daFolha.

ago.63/Reprodução
Os líderes da Revolução Cubana Fidel Castro e Che Guevara
Os líderes da Revolução Cubana Fidel Castro e Che Guevara
Burt Glinn /Magnum Photos/Latinstock
Tropas revolucionárias de Castro nas ruas da cidade de Santa Clara, previamente libertada por Ernesto Che Guevara
Tropas revolucionárias de Castro nas ruas da cidade de Santa Clara, previamente libertada por Ernesto Che Guevara
AP/Peta
Neta da revolução, Lydia Guevara posa no set de fotos para a campanha da organização Peta
Neta da revolução, Lydia Guevara posa no set de fotos para a campanha da organização Peta
Paula Prandini/Divulgação
Gael García Bernal (à esq) e Rodrigo de la Serna (ao fundo) em cena de "Diários de Motocicleta"
Gael García Bernal (à esq) e Rodrigo de la Serna (ao fundo) em cena de "Diários de Motocicleta"
Divulgação
O ator Benicio del Toro em cena do filme "Che", de Stevem Soderbergh
O ator Benicio del Toro em cena do filme "Che", de Stevem Soderbergh
Divulgação
Cantor Paulo Ricardo como Che Guevara
Cantor Paulo Ricardo como Che Guevara
Cezaro de Luca/Efe
Ex-jogador Maradona fuma um charuto durante partida de futebol em Buenos Aires, na Argentina
Ex-jogador Maradona fuma um charuto durante partida de futebol em Buenos Aires, na Argentina

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"Guia Politicamente Incorreto da América Latina"
Autores: Leandro Narloch e Duda Teixeira
Editora: LeYa
Páginas: 320
Quanto: R$ 33,90 (preço promocional*)
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

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