domingo, 15 de maio de 2011

NEM PENSAR, SE FOSSE 4D? 1º filme erótico 3D tem kung fu, pastelão e 'mensagem': "Sex and Zen 3D"

Sucesso em Hong Kong, 'Sex and Zen 3D' bateu estreia de 'Avatar' no país.

Produtor diz que longa atrai público feminino e até turistas chineses à ilha.

Diego AssisDo G1, em Cannes

Cena do longa 'Sex and Zen 3D' (Foto: Divulgação)Cena do longa 'Sex and Zen 3D' (Foto: Divulgação)

Nem Gus Van Sant, nem Woody Allen, nem o novo filme dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne. Um dos assuntos mais comentados durante a primeira semana do Festival de Cannes foi "Sex and Zen 3D", anunciado pelos produtores de Hong Kong como o primeiro longa-metragem erótico em 3D do mundo.

Lançado no mês passado em Hong Kong e exibido para compradores e frequentadores do festival na última sexta-feira (13), o filme de Christopher Sun e Shiu Stephen Junior já foi apelidado de "o 'Avatar' do sexo", graças à sua bilheteria de estreia no país, que bateu a do blockbuster 3D de James Cameron.

Recriação de um filme de mesmo nome lançado em 1991 pelo pai de Shiu, "Sex and Zen 3D" também foi rodado integralmente com câmeras 3D, mas com um orçamento infinitamente menor que o da superprodução hollywoodiana - apenas US$ 4 milhões.

"Nosso dinheiro era apertado. Não dá para competir com 'Avatar'. Usamos a mesma tecnologia e o mesmo espírito de 'Avatar' para fazer as coisas acontecerem, mas não tivemos o mesmo tempo de produção. James Cameron levou 5 anos para fazer o seu, e nós levamos só três meses", contou Sun, o diretor do filme, em entrevista ao G1.

Cena do longa 'Sex and Zen 3D', exibido durante o 64º Festival de Cannes (Foto: Divulgação)Cena do longa 'Sex and Zen 3D', exibido durante o 64º Festival de Cannes (Foto: Divulgação)


Mas assim como o filme de Cameron, o relativo sucesso da produção erótica cantonesa não pode ser explicado apenas com bytes e números. Um de seus maiores trunfos, especialmente se comparado a outros filmes de sexo, está na história, uma adaptação de uma antiga - e proibida - novela da dinastia Ming, passada de mão em mão nos últimos 200 anos, que narra a relação entre um príncipe malvado e um acadêmico que recorre aos favores do monarca para superar frustrações sexuais.

As atrizes Yukikou Suou (esq.) e Vonnie Lui (dir.), de 'Sex and Zen 3D' (Foto: AP)As atrizes Yukikou Suou (esq.) e Vonnie Lui (dir.),
de 'Sex and Zen 3D' (Foto: AP)

Livremente adaptada por Shiu e Sun, a versão para o cinema 3D carrega nos tom de humor pastelão, nas cenas de kung fu e nas brincadeiras com o membro diminuto do jovem estudante - em uma das cenas mais escatológicas e hilárias jamais vistas em Cannes, o personagem tem o pênis cortado e trocado pelo órgão de um jumento.

Orgulhoso e falastrão, o herói começa a história cortejando e casando-se com a filha virgem de um senhor local, mas logo na primeira noite de amor percebe que também sofre de ejaculação precoce. Incomodado com a situação, ele procura o príncipe e o convence a deixar que pratique a arte do sexo com algumas de suas inúmeras concubinas. Mas, no seio do castelo, há diversos traidores, e quando o nobre descobre que estava sendo trapaceado pelo jovem acadêmico dá início à sua vingança, com requintes de tortura e maquiavelismo.

"O filme é sobre amor, mas com uma história paralela de vingança de um príncipe que toma uma atitude desproporcional por conta de uma coisa muito pequena. A mensagem de 'Sex and Zen 3D' é que o amor se sobrepõe ao sexo", diz Sun.

"Sou um comprador também. Vou há muitas projeções. E, normalmente aqui em Cannes, em 15 ou 30 minutos, metade da plateia já foi embora. Conosco tem sido diferente. Mais de 90% das pessoas ficam e veem o filme até o fim! Até os mais impacientes querem ficar para ver aonde vai essa história", comemora o produtor executivo.

Mais que isso: segundo Shiu, "mais da metade" do público de "Sex and Zen 3D", em cartaz em cerca de 80 salas de Hong Kong atualmente, é composto de mulheres. "A maioria das pessoas acha que filmes eróticos são para homens, mas já na versão de 1991 muitas mulheres foram ao cinema ver 'Sex and Zen' porque era uma comédia", explica. "Acho que uma das estratégias de marketing que fizemos muito bem foram os clubes das mulheres. Pegamos alguns cinemas e não deixamos homens entrar. As mulheres vão em grupos de 10 ou 20, como se estivessem indo ver homens fazer strip-tease. E se divertem à vontade", garante.

Além da presença feminina, Shiu afirma que a exibição do filme em seu país tem atraído muitos turistas chineses. "Muitos deles vão a Hong Kong por outro motivo e acabam vendo. Mas tem também excursões de turistas que estão indo a Hong Kong só para ver esse filme. Eles sabem que não poderão ver num futuro próximo e sabem que é algo que tem de ser visto no cinema [por causa do 3D]."

Cena do longa 'Sex and Zen 3D', exibido durante o 64º Festival de Cannes (Foto: Divulgação)Cena do longa 'Sex and Zen 3D', exibido durante o 64º Festival de Cannes (Foto: Divulgação)


De acordo com o produtor de "Sex and Zen 3D", a recente abertura do mercado de filmes na China tem sido positiva, mas "a censura é muito firme"."Eles estão matando a criatividade", reclama. Para contornar o problema da falta de atores e atrizes pornô que falem chinês, ele disse ter recorrido à mão de obra japonesa (os dois protagonistas do filme vêm de lá).

"As atrizes chinesas nem querem fazer [filmes eróticos]. Só as japonesas, por causa da diferença cultural. Elas pensam que é um bom trabalho e uma forma de se livrar da pressão do dia-a-dia, mas em Hong Kong ou na China sexo é uma coisa que elas só fazem com seus maridos ou amantes, não querem mostrar para o mundo", justifica Shiu.

Cena do longa 'Sex and Zen 3D' (Foto: Divulgação)Cena do longa 'Sex and Zen 3D' (Foto: Divulgação)

Enquanto a abertura total de mercado do gigante vizinho não vem, os produtores de "Sex and Zen 3D" vêm buscando negócios em outros continentes. "Estamos muito felizes com a resposta. Só no primeiro dia em Cannes, conseguimos fechar contrato com Turquia e a Tailândia. Na América Latina, também já vendemos para o Peru", revela Shiu.

Diante do cenário promissor, Sun, o diretor, afirma que já pensa em uma sequência. "Primeiro temos que ter certeza que as vendas internacionais deste filme atendam às nossas expectativas. A gente com certeza vai fazer, espero que possamos começar a filmar ainda este ano. Mas isso só se tivermos um bom roteiro", avisa.

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